terça-feira, 31 de outubro de 2017

1924: A VILLA KOSTKA NA VILLA MARIANA


Anúncio do jornal O Estado de S. Paulo - 29/6/1924

Eu sempre fui muito ligado à Vila Mariana, onde moravam minha avó e mais um bocado de parentes. Nos anos 1950 e 1960, eu ia pelo menos uma vez por semana à casa de vovó ou da tia Angélica com meus pais. Por algumas vezes, passava a semana no meio das férias na casa de vó Maria. Bastava subir a rua Capitão Cavalcanti a pé, para o lado da Domingos de Moraes, que já achava por ali um verdadeiro shopping center de lojas, andando pela calçada.

Perigoso para uma criança? Não naquela época. Ao contrário do bairro do Sumaré, onde eu morava, que de perigoso também não tinha nada, onde eu precisava andar muito para chegar de casa até achar alguma loja, banca de jornais ou padaria, e só lá pelas bandas da Cardoso de Almeida, depois das ruas Professor João Arruda, Wanderley e Caiuby.

Voltando à tranquilidade da Vila Mariana, existia, um pouco mais longe da casa de vovó, mas muito próximo à casa de tia Angélica, o largo Ana Rosa, que tinha era maior do que é hoje, visto que o alargamento da rua Vergueiro, por volta de 1970, tirou-lhe pelo menos um terço do tamanho e fez desaparecer a fonte luminosa que ali existia.

Anúncio do jornal O Estado de S. Paulo - 18/10/1924


Na esquina da Domingos de Moraes com a avenida Conselheiro Rodrigues Alves existia ali, tanto numa rua como na outra, uma série de pequenas construções, que serviam de residências ou lojas. Hoje, no mesmo local, não existe qualquer residência, mas lojas e bancos em imóveis que não devem ser os originais, ou, então, em prédios bastante reformados.

Em 1924, e sabe-se lá desde quando, existia nessa esquina um enorme terreno que seguia até a atual rua Fabrício Vampré, com uma construção bastante grande, que havia servido a um seminário da Sociedade Brasileira de Educação. O terreno e o imóvel pode ser visto no desenho acima, publicado nos jornais em 29 de junho desse ano. Jamais vi alguma fotografia desse edifício. O local era chamado de Villa Kotska, cujo nome homenageava o Santo Estanislau Kostka, um polonês que viveu no século XVI. (Nota: existe hoje uma Villa Kotska em Itaici, Indaiatuba, SP, mas que, segundo a história por eles contada, não tem nada a ver com a vila do mesmo nome que existiu na Vila Mariana até 1924).

Anúncio do jornal O Estado de S. Paulo - 16/1/1925


Os donos tentaram vender o imóvel para outros usos. Porém, não devem ter dado sorte, pois, em 18 de outubro do mesmo ano, já estavam vendendo um loteamento no terreno, chamado de Villa das Jaboticabeiras. Pelo que se viu nos mapas deste loteamento, eram 47 lotes. Em janeiro de 1925, restavam apenas 19 a serem vendidos.

O bairro nos dias de hoje - Google Maps


No anúncio, há indícios que no local onde surgiu a atual rua Fabricio Vampré existia outra chácara, das Jabuticabeiras, que deu nome ao loteamento. Prometia-se que por todo o bairro havia jabuticabeiras. Estarão estas árvores ainda lá?

Vejam também que a imobiliária FV foi a responsável pelas vendas dos lotes. Seria também ela a dona do imóvel original, ou do da chácara das Jabuticabeiras, já que a rua principal recebeu depois esse nome - Fabrício Vampré?

domingo, 22 de outubro de 2017

SÃO PAULO: 93 ANOS DEPOIS, A VARZEA DO CARMO


Anuncio do loteamento em 1924 (O Estado de S. Paulo).

Os quarteirões existentes entre o morro do Pátio do Colégio, a rua Barão de Duprat e a várzea do rio Tamanduateí, em frente de onde apareceu logo depois o Parque Dom Pedro II (hoje uma pálida amostra do que foi) foram loteadas em junho de 1924.

De local chic que era para ser, tornou-se hoje zona comercial com uma série de problemas.


Mapa do loteamento em 1924 (O Estado de S. Paulo).


Os mapas do loteamento Varzea do Carmo e o que o bairro é hoje são mostrados aqui. Algumas ruas e pedaços de ruas foram extintas em modificações posteriores. O Mercado ainda não existia, mas já aparecia como a ser construído e o Palácio das Indústrias, recentemente aberto, eram os chamativos para os potenciais compradores de lotes.


Mapa do loteamento em 1924, alguns dias após o anterior, mostrando lotes já vendidos (hachurados) entre a Avenida do Exterior e a rua 25 de Março (O Estado de S. Paulo).


Os quatro mapas têm o norte no sentido para a esquerda deles.


A região em 2017 (Google Maps)

Bem próximo dali, também se instalou, bem mais tarde, um enorme terminal de ônibus e uma estação de metrô.

Pouca gente mora por ali.

Algumas ruas mudaram de nome. O Aterrado do Carmo tornou-se parte da avenida Rangel Pestana, então sua continuação. A rua Americo Brasiliense (canto esquerdo superior do mapa) tornou-se a rua Professor Euripedes Simões de Paula. A rua Ytobi virou rua Cavalheiro Basilio Jafet. A rua Pagé tornou-se a rua Comendador Afonso Kherlakian. A rua Anhangabahu virou rua Carlos de Souza Nazaré (e a parte inicial dela, entre a São João e a curva para passar debaixo do viaduto da rua Florencio de Abreu, virou avenida da Luz e depois Prestes Maia).

(Este artigo foi atualizado em 1/11/2017)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

UM LIVRO PARA PENSAR


Catorze anos depois de lançar meu terceiro livro (então o segundo sobre ferrovias, de nome Caminho para Santa Veridiana), recebi hoje o primeiro exemplar da minha quarta obra, de nome O Desmanche das Ferrovias Paulista.

Embora este possa ser considerado como uma espécie de complementação do meu livro de 2001, Um Dia o Trem Passou por Aqui, que contava a história dos trens de passageiros no Estado de São Paulo, ele conta a realidade amarga do que causou o fim destes trens e, pior, um desmonte injustificável da própria malha.

Ele conta episódios, alguns isolados, a maioria não, que foram ocorrendo das estradas de ferro de nosso Estado a partir de 1945 e que resultaram no panorama que hoje existe nesta área.

Foi um prazer, para mim, escrevê-lo, depois de uma pesquisa de dois anos, somada a todo o estudo que tinha realizado nos dezenove anos anteriores.

Espero que todos que o lerem gostem. Infelizmente, ele abrange um universo pequeno de pessoas. O custo de impressão de um livro como este, de quase 400 páginas, é grande e, para um escritor que apenas tem alguma fama entre os admiradores da ferrovia brasileira, número não tão grande assim de pessoas, a falta da distribuição nas livrarias faz com que ele tenha sido impresso apenas em pequena tiragem.

Daqui a alguns dias, ele também será lançado no Amazon, como um e-book.

Alguns leitores irão possivelmente achar que ele poderia ser menor e menos detalhado; alguns, que ele poderia ser mais detalhado. Outros acharão que faltam alguns episódios. Outros, talvez, que alguns terão sido superdimensionados. Afinal, é impossível selecionar tudo o que ocorreu,,,

Sobre as notícias e relatos caçados em jornais, revistas, sites e pessoas, há comentários de minha autoria; a ideia é mostrar o pensamento da época sobre os desmandos que iam ocorrendo.

Enfim, quem o ler vai julgá-lo. De minha parte, espero que ele sirva para que os imensos erros ocorridos e que ajudaram a desmanchar nossas ferrovias, não sejam repetidos no futuro. Se é que há futuro para as ferrovias em São Paulo e no Brasil.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

SÃO PAULO-PARANÁ: UMA FERROVIA QUE FEZ HISTÓRIA

No mapa, as linhas da Noroeste do Paraná original: Ourinhos-Jataí (parte) e ramal Cambará-Jacarezinho. A única linha pronta desse mapa nessa época era a da Sorocabanam onde se vêem as estações de Ourinhos e de Salto Grande, à direita, no mapa.

Na história da E. F. Noroeste do Paraná, conta um autor que os donos originais, que iniciaram a sua  construção no final de 1923, quando souberam da visita da Missão Inglesa ao Brasil no início de 1924, publicaram um grande anúncio de página inteira no jornal O Estado de S. Paulo, com a intenção de chamar atenção de Lord Lovat, um dos chefes da missão, para que ele investisse na ferrovia.

Parece brincadeira, mas foi isso que aconteceu. E foi longe: os ingleses combinaram uma visita à região e aos escritórios da ferrovia e, finalmente, acabaram por comprar a ferrovia e também as terras que existiam no seu caminho.

Formar-se-ia, então, a E. F. São Paulo-Paraná em 1928, sob a batuta dos ingleses, ela e a enorme Companhia de Terras do Norte do Paraná, dos mesmos proprietários. Disso tudo, formaram-se diversas cidades nos anos seguintes, sendo as duas maiores, Londrina e Maringá. Muitos consideram essa empresa o loteamento de terras mais bem sucedido do mundo até então.

A ferrovia acabou tendo construída somente a linha principal, sem o ramal Cambará-Jacarezinho.

Em 1935, foi aberta a estação de Londrina, numa cidade que já havia surgido timidamente em 1929.

Em 1942, quando os ingleses venderam a ferrovia para o governo federal, a linha ia de Ourinhos a Apucarana.

Em 1944, a ferrovia foi incluída na Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. Em 1947, surgiu a cidade de Maringá, onde a ferrovia chegaria em 1954.

Em 1973, a extensão máxima da linha chegou até Cianorte. Hoje, o trecho operacional é Ourinhos-Maringá: para além daí, abandono.

Interessante notar o mapa acima, publicado no anúncio de 16 de janeiro de 1924 e, se paciência tiverem, o texto abaixo do mapa, aqui também reproduzido.