quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A FEPASA EM 5 A. F. (1966)

Estação de Eleuterio, em Itapira, SP, em 2013 - um dos espolios de antigos ramais erradicados, e=no caso deste, em 1990 (Foto do autor do blog)
.

Se acreditarmos no que foi publicado em reportagem sobre a FEPASA publicada na edição de 17 de novembro de 1966 no jornal Folha de S. Paulo, veremos que as declarações de dirigentes das ferrovias paulistas na época já percebiam claramente uma grande decadência do transporte sobre trilhos e diziam que iriam tomar provicências.

É interessante notar alguns fatos citados:

1) o nome FEPASA já era largamente utilizado, embora a companhia nem existisse ainda (como se sabem somente em 9 de novembro de 1971 ela foi oficialmente fundada e até aí as ferrovias estaduais eram operadas, pelo menos em teoria, separadamente e com seus nomes);

2) o anteprojeto de criação da nova entidade ferroviária seria enviado na semana seguinte para a Assembleia Legislativa;

3) o transporte de café, ainda uma dos principais mercadorias transportadas nos trilhos havia caído de 90% em 1964 para 50% em 1965 e para 25% em 1966, então o ano corrente (seria verdade?). O complemento estava seguindo, então, cada vez mais, pelas rodovias e isso era consequência da "queda de confiança dos usuários no transporte ferroviário".

4) o deficit mensal somado das três maiores ferrovias (entre sete - as outras eram a E. F. Araraquara, a São Paulo-Minas, a E. F. Campos do Jordão e a E. F. Bragantina) era de 16 bilhões de cruzeiros (a grosso modo, na época, cerca de 8 bilhões de dolares). Note-se que nessa mesma época, os jornais anunciavam que a E. F. Santos a Jundiaí deveria ser anexada à FEPASA e que a anexação dela pela RFFSA havia sido uma violação à Constituição. Finalmente, havia gente que achava que a melhor solução seria que a rede paulista fosse entregue à RFFSA - fato que não aconteceu (embora a FEPASA já sucateada tenha sido entregue à RFFSA mais sucateada ainda trinta e dois anos depois como parte do pagamento das dívidas do BANESPA pelo Governador Mario Covas, fazendo com que hoje o governo paulista nada possa fazer - se quisesse, claro - nada contra os desmandos das concessionárias nas antigas linhas do Estado. Acabou ficando, quase que por acidente, somente com a E. F. Campos do Jordão).

5) O governo (paulista, ao que se entende pelo texto), pressionado para novos investimentos nas rodovias, a esta altura investia nestas 3 vezes mais que nas ferrovias;

O governo paulista queria então reverter esta situação e ter lucros com as ferrovias. Para isso, afirmava que iria eliminar os trechos paralelos de algumas ferrovias (não deram exemplos - será que ele considerava as linhas da Sorocabana, Paulista, EFA e Noroeste - sendo que esta última não era dele, mas federal - como paralelas, mesmo sendo tão afastadas umas das outras?

Vale também ressaltar que no mesmo em que essa reportagem foi publicada, o s jornais anunciavam que já estava faltando combustível em alguns pontos dos Estados, pois os caminhões estavam sendo multados já havia quase uma semana por trafegarem com excesso de peso e por isso estavam boicotando os transportes. As ferrovias não estariam dando conta exatamente por que? Lobby dos caminhoneiros ou falta de manutenção nas ferrovias para receber estes combustíveis como carga?

É interessante o jogo de interesses. Enquanto o governo de um lado queria conservar suas rodovias, de outro ordenava a pesagem e não previa os problemas que causaria, se a infra-estrutura ferroviária não dava conta. Tanto as rodovias quanto as ferrovias eram dele (São Paulo é o estado brasileiro que mais tem estradas, que mais tem as mesmas estradas em boas condições e que tem muito mais estradas estaduais co que federais).

Outra coisa que o governo deu ênfase em suas declarações foram a eliminação de ramais. Alguns poucos haviam sido eliminados entre 1960 e 1965; em 1966, no entanto, diversos ramais menores, todos de bitola métrica, foram extintos. A Mogiana acabara de anunciar para o mesmo mês de novembro a supressão dos ramais de Mococa e de Jureia, e dois meses antes a Paulista havia suprimido quatro ramais menores também. Também afirmavam que as constantes greves eram consequência da existência de várias ferrovias nas mãos do mesmo dono e com salárioos diferentes para cargos iguais. O mesmo dono era o governo, claro.

Queixavam-se que não extirparam mais ramais deficitários por pressões políticas das regiões que eles atendiam. Leia-se: não ligavam para o que a população e os usuários pensavam a respeito do prejuízo que eles teriam com o fim dos ramais.

Aí, anunciaram a formação de uma comissão para se analisar o caso, etc. O de sempre. Se a comissão saiu, não sei, mas como a FEPASA, considerada por todos como a solução para todos os males (hoje sabemos que não foi) demorou cinco anos para ser constituída...

Nenhum comentário:

Postar um comentário