segunda-feira, 19 de maio de 2014

A IMPRENSA VISTA POR UM REPORTER: SUD MENNUCCI

A foto "clichê" que foi publicada na reportagem transcrita neste artigo
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De novo, o Sud Mennucci! Aquele mesmo, meu avô materno, morto em 1948, três anos antes de eu nascer. Ele era, além de professor e outras coisas onde era autodidata, também repórter de jornal.

Começou essa carreira em 1911, escrevendo para jornais de Piracicaba, sua terra natal, e continuou depois, para pequenos jornais do interior, até que Monteiro Lobato o recomentou para Julio de Mesquita, seu mentor no O Estado de S. Paulo.

Passou a escrever artigos para o então maior jornal do Estado. Em 1925, Julio de Mesquita Filho o convidou, insistindo muito para que ele viesse trabalhar como redator no jornal. Foi por isso que Sud veio morar em São Paulo, onde permaneceu até sua morte prematura vinte e três anos mais tarde.

Estourou a Revolução de 1930. O jornal apoiava-a, não com tanta convicção assim, mas, no que tangia a Sud, este viu a oportunidade de se mudar a educação no país, ainda com setenta por cento de população rural e praticamente a mesma percentagem de analfabetos.

Aliou-se a Miguel Costa, que o apoiou, enquanto Sud escrevia os discursos para o comandante. No início de 1931, Sud foi nomeado diretor de O Tempo, um jornal que sobreviveu por alguns meses. Ficou apenas uns dez dias no cargo. Miguel Costa o nomeou Diretor do Diário Oficial do Estado. A essa altura, sem cortar as amizades, deixou o "O Estado".

Nos anos seguintes, continuou a escrever artigos para outros jornais, depois de lançar sua maior obra: A Crise Brasileira de Educação - livro atual ainda hoje. Este havia sido lançado, aliás, alguns meses antes da Revolução já citada.

Miguel Costa o apontou para o cargo de Interventor Federal em São Paulo em março de 1932, mas não vingou; nessa época, Sud ocupava o cargo de Diretor Geral do Ensino desde novembro de 1931, cargo equivalente ao de atual Secretário Estadual de Educação. Tentou implantar algumas medidas polêmicas para a época; não conseguiu e arranjou muitos inimigos com isso.

Sem entrar no campo de quais seriam estas medidas - prefiro deixar para outra vez - Sud acabou renunciando ao cargo poucos dias após o famoso 23 de Maio, desiludido com os rumos que a educação e a situação brasileira havia tomado. Ele seria nomeado mais duas vezes para o mesmo cargo por outras pessoas, em 1933 e em 1943, mas aquela primeira vez em 1931-32 ensinou-lhe lições muito duras.

Depois de lançar o livro Brasil Desunido - outra pérola da leitura - lançou o polêmico "O que fiz e pretendia fazer", onde citava a aventura de ter ocupado o cargo de Diretor Geral de Ensino em 1931-32. No lançamento do livro, ocorrido logo depois do final da revolução de 1932, ele declarou aos jornais palavras que impressionam pela sinceridade - coisas que hoje em dia não seriam ditas por jornalistas.

Vejam estes trechos extraídos de uma das entrevistas que ele deu, no caso ao extinto "Correio de São Paulo", de 20 de dezembro de 1932.

"(...) Sud queixa-se muito dos jornalistas, que foram os mais assanhados na campanha contra a reforma no ensino. Dees diz na `Introdução`: `E o que de mais notavel surgiu nessa campanha foi a proliferação de uma "fauna" nunca vista de conhecedores dos intrincados problemas educativos, pulular repentinamente no seio do jornalismo, classe que por ser tambem a minha conheço-a bem e sei até onde vão as suas luzes na materia.

Como jornalista, devia eu estar magoado com estas expressões. Mas a honestidade de principios e os conhecimentos que realmente tenho das redações dos nossos jornais, obrigam-me a reconhecer a verdade do que aí ficou dito. Hoje nas redações, além de não haver elementos especializados para determinar assuntos - o que não seria de todo censuravel - escasseiam sensivelmente os conhecimentos de ordem geral e mesmo a visão pratica das coisas mais comuns. Vezes na em que certos assuntos passam a ser tratados, inconscientemente, não apenas por leigos na materia, mas por pessoas que não dispõem do preparo suficiente pelo menos para assimilar convenientemente a leitura das mais simples argumentações sobre as questões mais banais.

Mas não é tudo. Acontece tambem que as simpatias pessoais, em detrimento do interesse coletivo (...)".

Sud Mennuccim que tambem é jornalista, disse da nossa infelicissima classe uma grande verdade: a proliferaação dos conhecedores de todos os problemas.

A reportagem seguia bem mais. Mas como se compara o que Sud falou com o que acontece hoje? Em minha opinião, a situação é bem pior. Eu não sou jornalista, mas leio jornais e vejo o que acontece.

Ainda mais com os jornais sofrendo uma campanha contra eles, chamando-os de "imprensa mentirosa e  golpista".

Isso não era falado em 1932. Mas ainda acredito que a imprensa não é mentirosa - principalmente a grande imprensa. Por que seriam? Para sofrer processos nas costas dos quais não conseguiriam se livrar? O que a imprensa fas é contar as verdades que lhes interessam contar. Afinal, não somos todos assim?

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