quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O VLT DO CARIRI COMENTADO

Nicholas na estação de Teatro, em Juazeiro (Autoria da foto: ver texto)
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Pois é, o Nicholas Burman, amigo meu e profundo conhecedor das ferrovias brasileiras e mundiais, inclusive a nível técnico, está no Nordeste há cerca de dois anos a trabalho e somente agora teve a chance de conhecer o VLT do Cariri, aquele que no Ceará liga as cidades de Juazeiro do Norte e do Crato, operado pela METROFOR, estatal cearense de operação de trens, metrôs e VLTs (há diferença?)

Como já escrevi nestas páginas anteriormente, ele corre sobre a antiga linha Sul da RVC - Rede de Viação Cearense, ou, se formos mais para trás ainda, na E. F. de Baturité, justamente no seu trecho final de linha, inaugurado em 1926.

Essa linha operou para passageiros até 1988. Depois, só cargueiros e, nesse pequeno trecho especificamente, atualmente somente está operacional para a Transnordestina - concessionária, antiga CFN - das linhas do Nordeste Brasileiro (Alagoas para cima) no trecho entre Juazeiro do Norte e a estação de Muriti, sendo que dali até o Crato ficou anos abandonada e somente foi recuperada quando o VLT começou a operar em 2009.

Tomei a liberdade de transcrever o que o Nicholas mesmo escreveu sobre a sua "aventura", que parece ter ocorrido beste último final de semana. Apenas corrigi a acentuação - o Nicholas reclama logo no início (isso não transcrevi) que o teclado dele não é ABNT e que portanto não tem acentuação. A partir do próximo parágrafo, o texto é todo dele e foi publicado no Facebook. Obviamente, ele está falando sobre o VLT e sua operação.

Uma boa ideia, que, como comentei antes, ficou pela metade. Começa pelo fato de que o sistema não possui integração com os ônibus, nem em Juazeiro, nem no Crato. A estação central de Juazeiro por sua vez fica afastada do centro, especialmente do Terminal de Integração. A linha aproveita uma linha pré-existente da Transnordestina Logistica S.A. (ex-CFN, exx-RFFSA, exxx-RFN) que sofreu "um trato" para receber o "Metrô".

No entanto, não houve uma requalificação da faixa de domínio da ferrovia, muitas PN não tem cancela e as que tem estão muitas vezes quebradas. Não houve nenhuma tentativa de segregação do leito da linha. Acidentes com veículos são quase uma constância - dois deles deixaram 2/3 da frota de trens fora de serviço, aumentado para 3/3 quando a ultima composição teve uma pane de motor. O Metro ficou fora de serviço por varias semanas... Para receber os trens a via permanente foi arrumada, mas ficou pela arrumação mesmo - hoje o mato invade a via que também recebe lixo das casas lindeiras.

A qualidade da via é muito ruim, as composições traqueteiam, sacolejam e chilreiam nas curvas o tempo todo; depois de fazer o trajeto (Teatro – Fátima - Crato - Teatro) desembarquei da composição me sentindo atordoado. As composições são em numero de 3, fabricadas pela Bom Sinal em Barbalha, CE. Como são os protótipos de uma série, foram montados sobre truques salvos de carros S-800 ex-EFS, a escolha recaindo em parte por que esses truques possuem um redutor Spicer (usado originalmente para acionar o dínamo) que pode ser incorporado na transmissão! (os trens entregues para a CBTU usam truques feitos sob medida pela EIF). Esses truques são a outra parte da origem do traqueteio, alem de serem muito duros - as bolsas de ar devem fazer hora extra!

A velocidade de cruzeiro é da ordem de uns 30km/h; duas composições fazem o trajeto, cruzando aproximadamente no meio do caminho. O licenciamento é feito via rádio a partir do CCO localizado (assim presumo) na oficina. O projeto inteiro poderia ter sido feito de maneira mais caprichada. Mas “sacumé”, é pro “povinho”, então faz nas coxas. Depois se perguntam por que é que o povo protesta...

A Transnordestina Logística mantém ainda uma presença tênue na região, na forma de um pátio na estação Muriti em Crato, onde há um terminal de combustível. No dia da minha passagem a única atividade era a descarga de um punhado de fechados contendo milho (provavelmente milho para distribuição via CONAB). Não, não tenho fotos, fora essa ai - estava sem câmera, quem tirou foi um colega de trabalho com o celular dele. Alem disso, hoje em dia tenho medo de ir para a beira da linha tirar fotos, tal a insegurança reinante, independente da região do país.

Um comentário:

  1. Olá Ralph,

    Já tinha ouvido falar desse VLT mas lendo agora percebi como ele está funcionando precariamente. Fico imaginando como esse projeto conseguiu sair do papel primeiramente, o de Macaé no RJ tá empacado, não sai de jeito nenhum. Se ele acabar la no Ceará manda ele aqui para o Rio para ficar no lugar do BRT que já está saturado....

    Abraço,

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