domingo, 4 de agosto de 2013

AS CIDADES NÃO AGUENTAM MAIS

O conjunto de edifícios em Barueri do qual falo abaixo. 21 prédios, 12 andares cada, 6 apartamentos por andar.

Estive em Curitiba mais uma vez, há cerca de duas semanas. Tenho ido a ela cerca de uma vez por ano durante os últimos cinco anos. Porém, é sabido que estive lá morando por seis meses em 2002, a trabalho. Aprendi a gostar da cidade, e muito.

Desta vez, porém, achei que a cidade mudou demais desde 2002. Vi os enormes edifícios que se construíram e estão sendo construídos no Batel e outros bairros próximos ao centro da cidade. E isto é mau. Os prédios estão formando já verdadeiras barreiras na avenida Sete de Setembro. Enormes, formadores de enormes sombras e tapadores de paisagens. Uma lástima.

Vi o Shopping Estação, construído há treze anos no pátio da estação velha de Curitiba, desativada em 1972. Além do crescimento que não para deste shopping, para cima e para os lados, hoje ele praticamente engoliu a velha estação, que ainda serve de fachada em parte da Sete de Setembro. Do lado da plataforma, no entanto, eu, que a conheci ainda ao ar livre com o shopping ao lado e tendo algumas lojas em algumas salas da antiga estação, hoje vejo a mesma plataforma coberta com tetos altos do shopping expandido e abarrotada de restaurantes. A entrada do pequeno museu, que é a antiga entrada do hall da bilheteria, quase passa despercebida dos nossos olhos.

A um quarteirão dali, abaixo da rua João Negrão, aquela do pontilhão, um prédio monstruoso está em fase final numa esquina, creio que da rua Conselheiro Laurindo com a avenida Sete. É daquele tipo que de tão grande parece que vai despencar sobre a avenida. Enfim: nada que vi de novo em Curitiba me agradou desta vez. Aquela cidade de crescimento controlado e organizado dos anos 1970-80 já não existe mais.

Logo em seguida, de volta para casa, fui ao outro lado do rio Tietê em Barueri, às margens do rio, numa avenida recentemente urbanizada (a marginal de lá) e da qual saem ruas para os bairros mais altos, portanto, constantemente em rampas. Aquele condomínio de trocentos prédios (para quem conhece) existente numa dessas ruas, mas que quase encosta na Marginal, não tem lugar para tanto automóvel. Uma vaga por apartamento (quem não não tem dois carros hoje em dia, mesmo para apartamentos pequenos como são aqueles?) somente. Evidentemente, o segundo carro vai ficar na rua. E os que visitam os amigos que lá moram nos finais de semana, param também na rua. Só que a rua que sobe (rua Marte) não tem vagas para tudo isso, Acabam parando na Marginal. Pare e ande... muito. E suba a rampa para chegar na portaria do condomíniol, claro. E ela é estreita, tem duas mãos e por ali passam caminhões. Como fazer?

Como foi que o prefeito de Barueri autorizou um empreendimento desses sem pensar pelo menos nesses problemas? O pior é que isso não sucede somente em Barueri, onde os exemplos de construções no "nobre" Alphaville causam um trânsito de proporções desesperadoras durante quase todo o dia. Onde esse pessoal tem a cabeça? Evidentemente, na carteira, aquela que fica no bolso.

E, finalmente, São Paulo, minha terra, lugar onde trabalho até hoje. Na mesma semana demoliram mais uma casa na avenida Paulista. A casa deveria ter sido tombada pela sua arquitetura? Não, realmente, pois era uma casa grande, mas sem graça, arquitetura anos 1950, quadradinha. Mas deveria ter sido tombada, sim, para manter o que ali estava em termos de tamanho e número de moradores. Quer derrubar? À vontade; Mas só se for para fazer um estacionamento. Ou para construir outra, no máximo com a mesma área projetada e mesma área útil. Como o prefeito de São Paulo autoriza mais um prédio - que é, evidentemente, o que vai sair ali - na Paulista? Já não bastam os que existem lá hoje?

Está mais do que na hora de se prestar atenção numa proposta que fiz há tempos neste blog. Porém, há um problema: quantas pessoas lêem este blog? Quem sou eu, para pedir que sigam meus conselhos? Não sou o dono da verdade, mas, neste caso, gostaria realmente de sê-lo, para pedir encarecidamente que se criem leis em TODAS as cidades que impeçam novas construções de edifícios. Que se construam novos apartamentos, casas, escritórios, SOMENTE em locais que já têm outras construções e que estejam abandonadas, obsoletas ou o escambau, sempre mantendo a área projetada e a área útil, mas mantendo um máximo nessa área útil.

Você tem um terreno? Ora, pode construir, desde que... o que você vai construir seja realmente necessário e mereça um estudo bem feito, com o cérebro e não com a necessidade financeira de quem autoriza ou de quem quer construir. Senão, daqui a poucos anos todas essas cidades citadas - Curitiba (2 milhões de habitantes), Barueri (400 mil) e São Paulo (12 milhões) - vão estar totalmente decadentes e em um estado que nos fará sentir saudades do ano 2013. Nós, hoje, já sentimos saudades dos anos 1950... quem viveu, viu. Falo em tamanho de cidade, não em tecnologia.

E mais: citei apenas três cidades com esse problema. Há muitas, muitas, mais no Brasil.

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