domingo, 28 de abril de 2013

GUILHERME PASSOU POR AQUI

Linha entre a estação de Três Corações e Varginha. Trecho dentro da primeira cidade. Foto de julho de 2012.

Numa época em que o Brasil começava a trazer imigrantes europeus para seu imenso território por absoluta falta de mão-de-obra - os negros estavam para ser libertados pela Lei Áurea, mas boa parte deles não tinha o know-how necessário para boa parte das tarefas que se apresentavam e nem existiam cursos de treinamentos para quem quer que fosse - eis que chegam italianos, alemães, poloneses, espanhóis e outras etnias para tentar trabalho por aqui.

Eles provinham de uma Europa que era mais desenvolvida que nós, mas que não tinha também empregos para todos. Um desses que chegou em 1888 ao Brasil foi Wilhelm August Max Michael Giesbrecht, mais tarde chamado de somente de Guilherme, tradução literal de seu primeiro nome, com vinte e dois anos de idade. Teria ele chegado ao Rio de Janeiro. Uns afirmam que ele teria vindo de Buenos Aires, passando antes pela Bolívia. Jamais consegui alguém que tivesse uma prova disso. Ele teria deixado pai alemão e mãe polonesa em Königsberg, Prussia alemã, e também uma irmã que se chamaria Maria.

Aparentemente, jamais regressou à Alemanha, da mesma forma que não tive jamais notícias de que tenha havido qualquer contato com seus pais e irmã. Sua certidão de nascimento prova o nome de seus pais, mas não cita, claro, uma irmã. Seu padrinho de nascimento teria sido o Kaiser Frederigo Guilherme II, em 1866. Por que não sei. Não parece que haveria relações dos Giesbrecht com a família real alemã (na verdade, o rei da Prussia somente tornou-se Kaiser da Alemanha a partir de 1871) e esse batismo seria algo que era feito como alguma tradição, alguma deferencia do então rei da Prussia com o seu povo.

Wilhelm era engenheiro. Ou, pelo menos, dizia ser. Com 22 anos, podia, realmente, já ter seu diploma. Aqui, seu primeiro trabalho foi o de "auxiliar nos estudos da E. F. Minas-Rio, na linha de Três Corações a Varginha", na exploração dessa linha e mais tarde no escritório da estrada. Diz ele em seus relatos que seu chefe se chamava Doutor Paulo Ferreira Alves. Nesse mesmo ano de 1888, ele acabou mudando de emprego e de local para trabalhar na E. F. Bahia a Minas, lá pelos lados de Teofilo Ottoni.

Em 1890 ele já fez estudos na E. F. Itabira a Diamantina, uma das que deram origem à atual Vitória-Minas. De 1891 a 1894 esteve em Jaguari, na Mogiana paulista, na época município de Mogi-Mirim. A cidade de Jaguariúna, ex-Jaguari, foi fundada por ele em 1894, quando construiu "onze casas e uma igreja".

Deve ter sido no tempo em que trabalhou ali em Diamantina que ele conheceu sua futura esposa, Maria Margarida Menezes Aguillar. Ela era da cidade. Casaram-se ali em maio de 1893. Nessa época, ele estava em Jaguari e deve ter, quando voltou para lá, levado a esposa. Meu avô, Hugo, nasceu na atual Jaguariúna.

Há muitas histórias de Guilherme a serem contadas. Algumas já o foram, aqui mesmo neste blog, como a de Natal em Juramento. No artigo de hoje, a lembrança veio quando soube daquele primeiro trabalho dele, do trecho ferroviário entre Três Corações e Varginha, que ainda existe, praticamente abandonado. Por coincidência, ano passado estive nessas duas cidades pela primeira vez. Não sabia de sua participação em sua construção. Fica aqui minha homenagem.

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