terça-feira, 4 de dezembro de 2012

TRILHOS EM PIRACICABA


A fotografia acima, de 1963, foi tomada em Piracicaba, SP, por um americano, Raymond DeGroote e mostra algo nada comum de se ver: três linhas férreas que se cruzam naquele ponto à esquerda da foto. Ela é citada no livro de Allen Morrison, um dos maiores especialista em bondes brasileiros e do mundo inteiro.

A linha em primeiro plano pertencia a uma ferrovia particular. Para a direita, os trens do Engenho Central seguiam para o engenho em si. Para a esquerda, eles subuam a ladeira (não parece, mas há uma ladeira que dá acesso ao bairro da Vila Rezende, lá no alto e, claro, não aparece na foto). A linha que a cruza em noventa graus é, como se pode ver, do bonde que corria por Piracicaba, que os teve até meados dos anos 1960.

A terceira linha não é tão nítida, mas está à esquerda da ponte que passa por sobre o rio Piracicaba. Era a linha da Sorocabana, que vinha lá das bandas de Jundiaí e seguia até São Pedro. Essa linha era também chamada de Ituana, pois originalmente foi esta ferrovia que a construiu, no distante ano de 1877 ali na cidade. A linha da Sorocabana também entrava para a esquerda da foto e subia para Vila Rezende, onde havia uma estação e seguia depois por terras da Usina Costa Pinto e dali para Charqueada e São Pedro.

Ao fundo, do outro lado da ponte, a região central da cidade de Piracicaba. Para cá da ponte, Vila Rezende. Longe dali, do outro lado da ponte e do outro lado do centro da cidade, existia uma quarta linha, a da Companhia Paulista, que funcionou na cidade com trens de passageiros entre os anos de 1922 e de 1977 e que hoje está abandonadíssima, com muitos trilhos tendo seus trilhos arrancados (irregularmente).

A linha da Sorocabana acabou, do lado de cá do rio (em relação à foto), em 1966. Para lá, em 1976 com seus trens de passageiros. Foi arrancada totalmente em 1991. A estação da Sorocabana virou terminal de ônibus no centro da cidade. A da Paulista, depois de anos no abandono, virou algo que se pode chamar de "centro da terceira idade".

Os bondes e os trenzinhos a vapor do Engenho Central viraram sucata. Já em 1996, quando estive em Piracicaba para fotografar a estação da Paulista, perguntei a uma guarda de trânsito onde ficavam as estações de trem da Sorocabana e da Paulista. Ela me respondeu com outra pergunta: "ué, tem trem na cidade"? A memõria já se tinha ido, mesmo com os trilhos da Paulista, naquela época, ainda aparecendo claramente naquela região da cidade.

3 comentários:

  1. Não cheguei a conhecer o ramal da Sorocabana no trecho entre Itaici e Piracicaba, mas para mim o fim do ramal ficou selado com a duplicação da rodovia SP 75 (Sorocaba-Campinas) em Indaiatuba entre 1989/1990. A velha rodovia passava por cima da ferrovia. Com a duplicação houve o rebaixamento da pista. Para o ramal continuar a existir, um viaduto ferroviário deveria ter sido construído, o que não ocorreu. O ramal perdeu de vez a ligação com a então novata Variante Boa Vista-Guaianã, corredor de exportação para Santos. Recentemente visitei Rafard, Capivari e Elias Fausto. Nessas cidades, além das estações, ainda é possível encontrar vestígios do antigo leito, velhas pontes sobre o Rio Capivari escondidas no meio do mato, pedras e até trilhos que viraram cercas no meio de canaviais. Mas a minha grande curiosidade é saber o que aconteceu logo após a retirada dos trilhos da Sorocabana na área central de Piracicaba. Sei que avenidas foram abertas, a antiga estação virou terminal de ônibus, etc. Mas houve uma interligação entre a antiga Sorocabana com a Estação da Paulista? Há fotos dessa interligação, se ela realmente ocorreu? O acervo do Estadão informa (23/07/1980) que a Metalúrgica Dedini realizou a unificação sem custos para a FEPASA. Onde ficava essa Metalúrgica que utilizava a ferrovia?

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  2. Bom, sou da região de Andradina e na época da antiga NOB (Noroeste doBrasil) RFFSA, fiz uma viagem de trem até São Paulo que durava uma eternidade, uma baldeação em Bauru para um trem elétrico que vinha não sei de onde , más o que aconteceu com tudo isso, levado ao descaso. Somente trens de carga, onde poderia ser explorado o pontecial turistico da região, historias contadas ao longo dos trilhos que por ali passaram.Por onde passo procuro saber a historia dos trens que tanto foram uties, Piracicaba que eu mal conhecia e hoje vivo a 14 anos por aqui, tem uma historia sobre trilhos muito bonita e ao mesmo tempo muito triste enterrada as custas do progresso. Por onde passei, Capivari, Mombuca, Rio das Pedras e por ai vai até chegar em Indaiatuba talvez, tudo acabado e ainda em alguns trechos visualizado pelo google mpas da pra se ver as marcas deixadas pela ferrovia em alguns trechos. Aquele trecho de Bauru/Rio Claro onde acredito que circulava o trem eletrico me parece estar desativado, mais uma linha abandonada e deixada ao acaso, quantas estações que se não forem tombadas , serão e se já não foram destruidas, um monte de dinheiro, digo muito dinheiro aplicado e deixado ali, quanto aço empregado ali e hoje é corroido pelo tempo. Tiro meu chapéu a empresa Valle por manter viva essa historia sobre trilhos o qual tive o prazer de viajar. Algo se falou sobre o trem do pantanal, empresas ferroviarias de transportes, pouco se importam com a historia , se preocupam apenas com a sua expansão industrial. Lamentavel.

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    1. Marciley, há 3 anos publiquei um livro que fala sobre esse ramal da Sorocabana e de muitos mais em SP, tentando mostrar o mesmo que voce, ou seja, o desmanche das ferrovias em SP. Se quiser compra-lo, veja no meu site www.estacoesferroviarias.com.br o meu e-mail e contate-me. É um pouco caro, mas mostra muita coisa

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