quinta-feira, 21 de junho de 2012

O TRISTE DESTINO DE BELAS EX-ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS

O esqueleto da estação de Cachoeira Paulista contempla, em 2011, um acidente com um trem da MRS (Foto Renato Bueno)

As notícias sobre o estado e uso das velhas estações ferroviárias aumentam a cada ano, posto que as ferrovias realmente abandonaram a enorme maioria desses prédios, que, hoje, não atendem mais às ferrovias, mesmo as que estão ao lado dos trilhos.

Das quase 5 mil estações ferroviárias brasileiras, quantas ainda são usadas como estações? Nunca contei. Algumas ainda são utilizadas como escritórios administrativos das concessionárias, como, por exemplo, Tatuí e Nova Itapeva, na antiga Sorocabana. Há outras. No total, chegariam a 500 as estações ainda utilizadas no meio ferroviário? Creio que não.

Isso significa, no entanto, que pelo menos 4 mil antigas estações ou estão abandonadas, ou foram demolidas, ou então viraram, em sua maioria, centros comerciais. Algumas poucas servem de moradia, conservadas, restauradas, descaracterizadas ou em mau estado. Levantamento difícil de ser feito, pois a situação muda praticamente todo dia, fora que é impossível saber em tempo real para o que está servindo um prédio de estação.

Hoje chegaaram-me notícias sobre duas delas. A abandonadíssima e, com risco de cair de vez, estação de Cachoeira Paulista mais uma vez está na berlinda para ser restaurada. Tombada pelo CONDEPHAAT e, acho, pelo IPHAN (se por este não está, está em vias de), sua recuperação está sendo estudada por políticos e empresários da cidade, que já teriam chamado uma empresa para avaliar o custo de restauro - tombada, não pode ser reformada, mas restaurada se possível nos mínimos detalhes.

De tipologia arquitetônica igual a diversas estações construídas pela Central do Brasil no final do século XIX (o prédio da estação de Cachoeira é de 1877), tem diversas similaridades com pequenas e grandes estações dessa época, como Porto Novo do Cunha, Barão de Juparanã, Queluz, Engenheiro Passos e muitas outras nas linhas da Central no Rio, Minas e São Paulo. É linda e, em área projetada, uma das maiores estações do Estado.

Só que está em ruínas. A Prefeitura lamenta que somente agora tenha tomado a posse provisória do local. Lamenta por que? Numa cidade pequena como Cachoeira, que por alguns anos nas décadas de 1940 e de 1950 se chamou Valparaíba antes de pegarem o nome antigo e adicionarem a ele o nome "Paulista" e que hoje é chamada pelos habitantes de "Cachopa", a existência de um prédio imenso que, apesar de estar arruinado, ainda mantém a majestade somente pode ser algo de glorioso para a cidade.

Porém, é fato que o prédio é grande demais para a cidadezinha. Fazer o que com ele, afinal? E porque durante os últimos trinta anos, período em que a deterioração do prédio comeu rápida e solta, cidade e RFFSA não se uniram para, pelo menos, manter intacta a estrutura, tentando segurar uma parte dos vazamentos de telhado e pelas janelas que fizeram cair pisos e escadas de madeira, roubo de aparelhagem e peças, pisos hidráulicos, para minimizar o prejuízo? E olhe que tem gente na cidade que adoraria "ver essa velharia no chão". Talvez para construir uma torre de cinquenta andares (que também não teria ocupantes) e com o nome "Maison de le Gare"?

Em tempo: a reportagem do jornal que fala sobre o assunto diz que a estação se chama Dom Pedro II. Não chama mesmo, nunca chamou. As duas únicas estações que têm esse nome são a estação carioca (hoje chamada de Central do Brasil) e a estação de Mineiros, hoje Mineiros do Tietê, da Companhia Paulista, e que, nos seus primórdios (é de 1877), levou o nome do Imperador.
Em Santa Luzia, o teto caiu durante o incêndio (Foto Paulo Filgueiras)

Rumando seiscentos quilômetros para o norte, a velha e minúscula estação de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, foi semi-destruída por um incêndio na madrugada de ontem. Era um centro cultural (para variar) da cidade. Fechada há muitos anos, foi reformada em 2010 com um novo sistema elétrico, segundo a prefeitura divulgou ontem.

Porém, como sói acontecer, é o vandalismo e o sistema elétrico em mau estado - ou mal feito - que destrói prédios antigos que originalmente nem tinham eletricidade. Um dos dois causou os estragos. Tudo o que havia dentro dela foi destruído e parte do telhado caiu. Uma pena. E que as prefeituras aprendam de vez a gastar melhor para construir sistemas elétricos confiáveis, ou protejam seus prédios mais eficientemente pagando um dois policiais para proteger seu patrimônio histórico. O Brasil não aprende, mesmo. Aqui, o ditado pe "vivendo e emburrecendo".

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