segunda-feira, 22 de agosto de 2011

UMA ESTRADA PARA O FIM DO MUNDO - IGUATEMI

A estrada para Iguatemi. Ao longe, somente cana e morros

No dia 9 de novembro de 2005, estive no Shopping Center Iguatemi, em São Paulo. A decoração de Natal já estava pronta e, ao ver a "Estação Iguatemi", tive a idéia de escrever uma carta, sem maiores pretensões, ao jornal O Estado de São Paulo, cuja íntegra foi a seguinte:
A estação de Iguatemi em 1918. Bons tempos para Iguatemi, certamente bem mais povoada do que hoje

"Estive hoje no Shopping Center Iguatemi, onde vi a decoração de Natal, mostrando o trem e a "Estação Iguatemi". Interessante, tudo muito bem feitinho, as crianças e adultos adorarão. Tudo tipicamente americano, anõezinhos, elfos, Papais Noéis, trilhos, bilheteria... mas, enfim, o que não está americanizado neste Brasil de Deus? Enquanto isso, poucos sabem, mas a estação ferroviária de Iguatemi existe, sim. Esquecida por todos, menos, talvez, pelas crianças da zona rural do município de Barra Bonita, que estudam na antiga estação, que, depois de desativada há 39 anos, serve de escola, ao lado de casas da colônia da fazenda que ali existia. Tudo ali é precário, a começar pelo acesso de terra de cerca de 6 quilômetros desde o asfalto da rodovia que liga Jaú a Barra Bonita. O prédio, inaugurado há exatos 102 anos, até que está conservadinho, mas já a região em volta, antes dominada pelo café, hoje o é pela cana de açúcar. A região está mais pobre e os trilhos, arrancados, e o trem a vapor do antigo ramal de Agudos da Companhia Paulista, esses não voltarão nunca mais. Até que a estaçãozinha teve mais sorte que muitas congêneres, abandonadas à própria sorte ou demolidas. Nestes tempos próximos ao Natal, seria bom que o Shopping lembrasse aos seus usuários que um dia existiu uma estação real com o mesmo nome, uma das que trouxe o progresso de São Paulo"

Casas da colônia em 1998. A foto foi tirada quando estive lá pela primeira vez. Todas foram derrubadas depois disso

A carta foi publicada em 23 de dezembro, resumida, um mês e meio depois, com a resposta do Shopping, que, em suma, não entendeu nada, achando que eu estava criticando a decoração... apenas.
O bar é a única casa que restou da colônia. Caminhando, seu dono

Quase seis anos se passaram. Ontem, dia 21 de agosto, estive novamente em Iguatemi depois de treze anos. Mudou muito. A colônia foi toda demolida, tendo sobrado somente uma das casas, que hoje é um barzinho. A igreja, construída há 56 anos, também ficou em pé e está sendo reformada. E a estação... essa também ficou ali, mas está fechada. Não é mais escola. Parece já estar fechada há um bom tempo. A grama colocada no antigo leito dos trilhos virou mato.
Uma das pilhas de tijolos das demolições, que não são tão recentes assim, segundo o dono do bar

Há ainda algumas pilhas de tijolos ao lado das fundações de algumas das casas derrubadas. A desolação é total. Somente encontrei o dono do bar e o senhor que está reformando a igreja. A estação e a igreja somente ficaram ali por serem de donos diferentes. A vila que foi toda demolida era do dono da fazenda, que quer plantar cana, mas, segundo o dono do bar, "não vai é plantar nada".

Para se chegar à vila, para quem sai da estrada Jaú-Barra Bonita - a entrada é no km 169 da SP-255 - são seis quilômetros de terra, passando debaixo do "linhão" de alta tensão e no meio de canaviais. Parece que nunca vai acabar e que o ponto final é no fim do mundo.

Pouco antes de chegar na entrada da vila, pode-se ainda ver o pequeno aterro por onde passava a linha da Paulista até 1966 - curioso que resistiu por todo esse tempo e ninguém se preocupou em desmanchar.
A igreja tem cinquenta e seis anos e está sendo restaurada por um senhor de Jaú, que trabalha praticamente sozinho nos finais de semana

A vila é pequena, hoje menor ainda. Dela não se vê coisa alguma, apenas plantações e morros ao longe. Uma ou outra casa mais nova na entrada, algumas mais antigas subindo à esquerda, depois, virando à direita, a estação, a igreja, e logo abaixo o bar e as tais pilhas de tijolos.
A velha estação, hoje fechada depois de ter servido como escola por muito tempo. O mato cresce onde até 1966 estacionavam locomotivas a vapor

Escola na antiga estação para que, já que todos estão indo embora dali? Nem o shopping Iguatemi, sabendo que o local existe (afinal, eu contei para eles, não contei?) se preocupou em mencionar esse fim de mundo.
A plataforma da antiga estação parece ainda esperar pelo trem. O prédio foi construído em 1903

Triste Iguatemi. Perdido no meio da avalanche de cana, não deve durar mais muito tempo.

14 comentários:

  1. Eu, Paulo Guerra, morador de Jaú estive hoje, dia 30/08/2015, com um grupo de amigos denominados Amigos da Fotografia Jaú no Bairro do Iguatemi.
    A capela está reformada e nos fundos criou-se um espaço para as festividades do moradores do local. A estação do Iguatemi continua lá firme, lógico, um tanto abandonada, mas está cercada por alambrado. Resiste firmemente a ação do tempo.

    ResponderExcluir
  2. Gente, saudades de causar até arrepios...passei muitas férias da minha infância nesse lugar. A tia da minha mãe assim como os filhos dela moravam nessas casas dos colonos. A dona do barzinho chamava-se Isaura, ela era prima da minha mãe...em frente ao bar tinha uma galpao pequeno onde o pessoal jogava bocha, e os fazendeiros amarravam seus cavalos...frutas, quantas variedades tinha na casa da Norma....fogão a lenha.. até hoje aqui em São Paulo quando passo em frente alguma padaria e sinto o cheiro da lenha, lembro do cheiro da comida de Iguatemi. Tempo que não volta mais.. saudades. Se alguem tiver mais fotos manda pra mim por favor. Meu e-mail jussaracbarbo@hotmail.com. Abraços.

    ResponderExcluir
  3. http://www.estacoesferroviarias.com.br/i/iguatemi.htm

    ResponderExcluir
  4. Gente, saudades de causar até arrepios...passei muitas férias da minha infância nesse lugar. A tia da minha mãe assim como os filhos dela moravam nessas casas dos colonos. A dona do barzinho chamava-se Isaura, ela era prima da minha mãe...em frente ao bar tinha uma galpão pequeno onde o pessoal jogava bocha, e os fazendeiros amarravam seus cavalos...frutas, quantas variedades tinha na casa da Norma....fogão a lenha.. até hoje aqui em São Paulo quando passo em frente alguma padaria e sinto o cheiro da lenha, lembro do cheiro da comida de Iguatemi. Tempo que não volta mais.. saudades. Se alguém tiver mais fotos manda pra mim por favor. Meu e-mail jbarbo@hotmail.com. Abraços.

    ResponderExcluir
  5. Olá.
    É nesta estação que depois passou a ser escola onde aprendi a ler e escrever.
    Saudades deste tempo. Tentei encontrar profesdores desta época, mas sem sucesso até agora.
    Se alguém tiver alguma informação entre em contatobpor favor. Meu email é: alvesclaud@gmail.com

    Obrigado.
    Claudio Alves

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. ola Claudio
      tbem estudei nessa escola
      foi so um ano mas guardo boas recordaçoes.
      estive la hoje 28/02/17 e a escola esta escondida no meio do mato.
      mesmo assim entrei pra matar saudades.
      estudei la em 78 ou 79.
      meu e mail carlosdgodoy@conectcor.com.br

      Excluir
    2. Eu também estudei em Iguatemi de 87 a 91 e não sei mais nada nem das professoras da epoca

      Excluir
  6. A saudade da nossa infancia sempre aparece nos nossos dias atuais....incrível.

    ResponderExcluir
  7. Meus avós (Verner e Manoela) moravam na colonia. Minha mãe (Elza) morou nesta colonia com a Norma e mais 1 irmão (Valdemar). Andei na locomotiva a vapor. Iamos de São Paulo a Jaú de trem e depois pegavamos a locomotva....parece que foi ontem..

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Conheci Élio botario também

      Excluir
    2. Oi. Sou filho da Nena que cresceu na colônia. Ela conheceu o Valdemar, Norma, Sr Werner. E o Élio marido na Norma. Que era filho da dona Antonieta, irmã da Isaura.

      Excluir
  8. Nasci e cresci no na fazenda Corumbá tá e Iguatemi conheci Verner ele trabalhava na máquina de arroz da fazenda e conheci Manuela Geraldo do bar Pedro da venda e Chicao

    ResponderExcluir
  9. Meu avós, meu pai e meus tios moraram em Iguatemi no início do século passado. Eles tinham um armazém no local.

    ResponderExcluir
  10. Minha mãe lembra do imporio dos turcos, a farmácia do Joãozinho, o único farmacêutico que tinha. O açougue era genro da dona Isaura, vendeu para o Sr Loja, que vivia dando dinheiro para as crianças. Antes ele mora na colônia da fazenda.

    ResponderExcluir