quarta-feira, 20 de julho de 2011

O DIA EM QUE O PREFEITO DE PARNAHYBA FOI PARA A CADEIA

Largo da Matriz em Santana de Parnaíba, em 1966 (Quatro Rodas)

Era um domingo, 6 de agosto de 1928, dia de festa no então distrito de Pirapora, com romaria e tudo o mais. O prefeito do município de Parnahyba, João José de Oliveira, juntamente com seu secretário, aproveitou sua presença no local para, pessoalmente, cobrar as taxas municipais dos veículos estacionados, com placas de outros municípios.

Naquele tempo, a legislação de trânsito era de competência municipal e este tipo de taxa era devida - o estranho foi o prefeito em pessoa fazer isso. Quando os dois - prefeito e secretário - estavam com os blocos nas mãos, aproximou-se do prefeito o comandante do destacamento de Pirapora, um cabo da polícia, que lhe deu voz de prisão. Surpreso com o fato, perguntou ao policial se ele sabia quem ele era. Como o cabo dissesse que não, o prefeito afirmou que, sendo ele quem era, era supostamente uma figura conhecida de todos.

O policial então disse que “se o senhor é o prefeito, a sua Câmara é uma ladra!” e que teria de levá-lo preso. E o prefeito foi realmente recolhido ao xadrez juntamente com o secretário Antonio Branco, que “também pertencia à quadrilha”. O delegado de polícia de Pirapora foi avisado e pediu que os presos fossem escoltados à sua presença na sua residência, no Largo da Matriz (de Pirapora). Depois da ida à delegacia, foram obrigados pelo delegado a devolver todas as multas arrecadadas aos multados!

De acordo com o relato do prefeito à Câmara dois dias depois, “assim foi feito. Escoltado por várias praças e sob a chacota do populacho fomos à casa do Dr. Delegado de Polícia de quem só merecemos audiência depois de espera de mais de um quarto de hora na praça pública. O Dr. Delegado, ao invés de se impressionar com o fato na realidade grave, antes pareceu achar nele pouca importância, por isso que, fugindo à espera de ação a que o obrigava o cargo entrou de fazer crítica à atitude da Prefeitura, discutindo, à força de argumentos jurídicos, a ilegalidade dos impostos que estavam sendo arrecadados. Concluiu, afinal, que as taxas arrecadadas deveriam ser devolvidas às partes! Lamentável porém real incidente!

Entretanto, desacatado em plena praça pública, vilipendiado pelos insultos reiterados de soldados e populares sem educação, e sobretudo convencido da minha nenhuma garantia, diante do ato sobremodo censurável mas indiscutível do chefe da força armada, diante de tudo isso dizemos, só nos restava abandonar os interesses da Câmara (...) Assim fiz, devolvi aos interessados as taxas arrecadadas segundo me fora ordenado pelo Dr. Delegado, retirando-me, em seguida, para a sede do município”.

O delegado de polícia de Pirapora foi avisado e pediu que os presos fossem escoltados à sua presença na sua residência, no Largo da Matriz (de Pirapora). Depois da ida à delegacia, foram obrigados pelo delegado a devolver todas as multas arrecadadas aos multados! A Câmara publicou moção de desagravo ao Prefeito e seu secretário, citando o ocorrido em detalhes, baseando-se no relato do prefeito.

Não é mentira, está tudo nas atas da Câmara Municipal de Santana de Parnaíba. O secretário, Antonio Branco, tornou-se interventor poucos anos mais tarde. Pirapora hoje é o município de Pirapora do Bom Jesus.

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