sábado, 2 de abril de 2011

O RAMAL DE BAURU

Estação de Agudos, do ramal de Bauru, em 2009. Foto Daniel Gentili
Toco sempre na mesma tecla: trens de passageiros no Brasil. Um amigo meu desenterrou uma reportagem publicada em O Estado de S. Paulo no dia 2 de janeiro de 1983, dia seguinte à posse dos novos prefeitos em todos os municípios brasileiros. Grande parte dos trens de passageiros do estado de São Paulo haviam sido extintos havia sete anos: 1976 e o início de 1977 acabou com uma série de linha no interior. A alegação, sempre a mesma: falta de movimento, prejuízos enormes que a FEPASA não podia mais bancar.

Os trens, no entanto, eram ruins. Horários cada vez menos respeitados, falta de higiene, poucos passageiros por isso e também por causa de excesso de paradas. Viagens que de automóvel ou de ônibus se faziam em 1 ou 2 horas, com o trem, se fazia até em cinco. Reações dos passageiros e de prefeitos e vereadores à extinção, quase nenhuma. Sobraram apenas as linhas-tronco das antigas ferrovias com os passageiros: Mogiana, Sorocabana e Paulista.

Alguma reação tardia se esboçou. Em 1982, o trem Santos-Embu Guaçu e o Santos-Juquiá retornou à atividade. Agora, com os novos prefeitos, alguns resolveram rebuscar no passado algumas reclamações de velhos usuários saudosos dos trens. No caso, aqui, a reportagem falava do ramal Botucatu-Bauru, da antiga Sorocabana, extinto em dezembro de 1976. De acordo com o jornal, foram os prefeitos de São Manuel e de Lençóis Paulista que se aventuraram a conversar com Franco Montoro, que estava assumindo o governo do estado.

Vou transcrever agora alguns trechos da reportagem: "O trem não é uma condução veloz que possa competir com os ônibus em tempo de viagem, mas poderá resolver o problema da população de baixa renda e dos moradores dos distritos, alguns deles distantes das estradas asfaltadas, que ficaram sem o trem mas também não são servidos pelos ônibus". Interessante. Em resumo, o que se quis dizer é que para esse pessoal serve qualquer coisa, já que nem aos ônibus interessava aqueles percursos. Ora, pensar em oferecer trens modernos nem pensar. Que voltassem os trens obsoletos que circularam até 1976.

Mais uma: "(...) contesta os argumentos da FEPASA que a manutenção dos trens de passageiros é antieconômica e, por isso, não tem razão de ser. Na sua opinião, ferrovia, como qualquer outro transporte de massa, naõ deve ser encarado como algo necessariamente gerador de lucros, mas sim instrumento de prestação de serviços à coletividade (...) Não acha má até a ideia já levantada no passado por outras lideranças da região, que pediram a implantação do trem misto para atendimento da população rural". Como assim? Em minha opinião, o político está certo no caso dos lucros, mas totalmente errado quando diz, em outras palavras, que prestar serviço à população quer dizer - de novo - qualquer coisa serve. Trens mistos são lentíssimos e não têm horário a seguir.

Finalmente, uma pérola: "todos os distritos (eles falavam dos lugarejos que eram estações rurais, como Toledo, Igualdade, Inácio Pupo, Paranhos, Alfredo Guedes, Virgílio Rocha, Bom Jardim e Conceição) teriam no trem grande fator de progresso e bem-estar de seus habitantes". Ora! Esses trens passaram por mais de setenta anos por esses locais e já haviam desenvolvido o que tinham de desenvolver. Essas regiões, por diversos motivos, já estavam em decadência desde os anos 1950. A retirada dos trens já obsoletos somente os fez praticamente acabar (Bom Jardim e Virgílio Rocha, por exemplo). Agora, queriam dar-lhes um trem misto para retomar o desenvolvimento?

Não se sabe por quanto tempo se desenrolou o processo de tentativa de reativação do ramal. O que se sabe é que esse trem, assim como todos os outros, jamais retornou. A linha existe até hoje e é uma das mais importantes do sistema operado pela concessionária ALL, pois é por ela que vêm para Santos as cargas do Mato Grosso do Sul (o ramal sempre foi, na prática, a continuação da antiga Noroeste do Brasil).

Está na hora - hoje, mais do que nunca - de nossos políticos aprenderem a respeitar o povo que neles vota. Em qualquer caso, qualquer ramal que tenha algum trem de passageiros implantado deverá ter algo que seja de última geração. Trazer coisa velha simplesmente não faz mais sentido. Nem como trem turístico.

Em tempo: Toledo, Conceição, Virgílio Rocha, Bom Jardim, Inácio Pupo, Paranhos... praticamente não existem mais.

5 comentários:

  1. prezados ralph e alexandre, desculpem o OFF TOPIC, mas nao encontrei e-mail de voces aqui. registrei meu amor por ferrovias e transporte ferroviário numa crônica, que compartilho com voces: http://primeirafonte.blogspot.com/2011/04/senhora-do-tempo-trilhando-memoria.html . obrigada.

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  2. bom creio que o passageiro voltaria a funcinar no ramal entre botucatu e bauru apos a conclusao das retifacao entre rubiao e lencois iniciadas no governo laudo natel e nunca concluidas tenho certeza disso pq senao o novo traçado jamais passaria por dentro de sao manuel ele meio qe faz uma voltinha pra entrar em sao manuel, o traçado atual original da efs entre toleto e lençoes e pessimo torna passageiro totalmente inviavel nesse trecho ate nos dias de hoje

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  3. Voltaria nada, Leandro, estavam acabando com todos os ramais curtos em termos de passageiros.

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  4. Caros,

    dia 28/04 as locomotivas da Fepasa abandonadas na Estação de Bauru terão um destino. Lamentavelmente serão leiloadas como sucata pelo Dnit.
    Os lotes podem ser vistos no site:
    www.sandresantoro.com.br e pesquisar por DNIT.

    Triste noticia.

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  5. O "Trem de Luxo" que circularia pelo ramal de Bauru da EFS e pela linha da Noroeste, citado no Estadão de 21.1.67, página 11, acho que nunca saiu do papel:
    http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19670121-28150-nac-0011-999-11-not

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