segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ARQUITETURA INVISÍVEL

A casa atrás das lojas. Ao lado direito, um telhado em quatro águas de outra casa.
Como já escrevi há algum tempo neste blog, o professor Máximo de Moura Santos, amigo de meu avô Sud, possuía um colégio na rua Domingos de Moraes em fins da década de 1920. Quando meu avô estava construindo sua casa na rua Capitão Cavalcânti, a dois quarteirões dali, mudou-se com a família para uma dependência da escola.
O mapa da Sara Brasil de 1930 mostra o quarteirão citado. Todas essas casas já existiam. Ainda parecem existir três delas: da rua França Pinto para o norte, lado par da Domingos de Moraes, a segunda (um armazém já descaracterizado), a terceira (que pode ser vista acima das lojas) e a quarta (apenas se vê o telhado).
O número da casa era 148. Lado par, portanto. Entretanto, a numeração da época não era a métrica - que somente veio a ser implantada em São Paulo em 1938. Então, onde ficava a casa? Tenho uma fotografia dessa casa, tirada por meu avô. O número da casa estava escrito no verso da foto. Quando eu escrevi a biografia dele, perguntei a minha mãe - que havia morado ali e teria seis anos de idade - onde deveria ficar a casa. Ela não se lembrava muito bem. Achava que ficava entre as ruas França Pinto e Araxans (atual Sud Mennucci).

Quase quinze anos depois, descobri que não era ali, mas sim no quarteirão anterior (para quem vem da cidade), o que fica entre as ruas Joaquim Távora e França Pinto. Isto ocorreu porque, por acaso, folheando um velho livro de 1916, consegui identificar boa parte dos locais com numeração antiga da rua Domingos de Moraes. Ali estava escrito que "a rua França Pinto começava junto ao número 161 da rua Domingos de Moraes". Está certo, 161 era ímpar, mas isto implicava que o número 148 seria,então, no quarteirão citado acima.

Para ter um pouco mais de certeza, perguntei à minha mãe se ela se lembrava de onde ficava a casa. Ela disse que da casa ela se lembrava de ver, bem próxima, a caixa d'água da rua Vergueiro. Bingo. O quarteirão devia ser esse mesmo. Seria em que ponto, exatamente? Difícil de dizer. Esse quarteirão, em seu lado par, ostentou o prédio da antiga "fábrica de phosphoros" da Vila Mariana em toda a sua extensão até 1922. Portanto, as casas que ali existissem deveriam ser mais novas do que isso.
A mesma casa, vista de frente. Porém, quem passa na calçada do outro lado da rua dificilmente notará a velha casa. Reparem que à esquerda da loja "Basico", está a entrada lateral para os fundos, onde a casa ainda está - possivelmente alguém mora nela ainda
A mim, parece que o estilo da casa, cuja fotografia reproduzo aqui, condiz com essa afirmação. Da mesma forma, pelo menos uma casa que "descobri" recentemente no mesmo quarteirão, escondida atrás da fachada de três lojas à beira da calçada, parece ser dos anos 1920 ou até 1930. Ao lado, outra casa, da qual somente se vê um telhado de quatro águas, que possivelmente seja da mesma época, também escondida por três lojas.
A casa onde ficava o Colégio Moura Santos, antigo 148 da rua Domingos de Moraes. Na época da foto, era tanto escola quanto moradia de meu avô (final dos anos 1920).
Nenhuma delas parece ser a antiga escola. Ela talvez fosse ao lado direito da última, de quem olha da rua. Ali não há casa antiga. Ela deve ter sido demolida. Quando, não se sabe.
Nela nasceu minha tia Lélia, irmã de minha mãe, quatro meses antes de Sud e sua família se mudarem para a sua nova casa na Capitão Cavalcânti.

Enfim, há muita coisa antiga e bonita escondida em São Paulo, ainda.

Um comentário:

  1. Na Rua Augusta tem um monte de exemplares dessa "arquitetura invisível"... Uma grande pena!

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