domingo, 1 de agosto de 2010

UM DESASTRE


Em 1952, foi demolido o Palacete Prates. Construído pelo Conde Prates, entre outras coisas dono da Fazenda Santa Genebra, hoje no município de mesmo nome, o palacete foi construído juntamente com seu vizinho no ano de 1911, para harmonizar arquitetonicamente com o Edifício Sampaio Moreira e com o próprio Teatro Municipal, este no outro lado do Vale, ambos da mesma época. Todos eles constituiram por muitos anos o cartão-postal de São Paulo.

Mas... muitos anos, mesmo? Afinal, ele durou apenas 41 anos e foi demolido. Uma obra de arte, substituído pelo edifício Conde Prates, que, por mais que tenham arquitetos que possam gostar dele, para mim é totalmente descartável. Uma implosão seria uma dádiva. Não construir nada em seu lugar, uma dádiva maior ainda.

As duas edificações ao lado do palacete duraram pouco tempo mais. O Clube Comercial, ao lado do Martinelli, construído depois do palacete, caiu, se não me engano, em 1958. O outro, em 1972, abrigou a Assembléia por muitos anos. O próprio Palacete Prates abrigou tanto a Prefeitura quanto a Câmara Municipal até meados dos anos 1930. Depois, não sei. É possível que tenha se deteriorado depois disso até a sua demoliçaõ, mas isto é algo a se conferir.

Contrastando com a filosofia americana de construir prédios descartáveis, que são demolidos de geração em geração, a filosofia européia mantém suas construções por muito mais tempo. É uma das razões da amnutenção de suas tradições e, consequentemente, de seu amor às raízes, amor à Pátria.

No Brasil, e principalmente em São Paulo, porque esta cidade cresceu rápido demais, prédios foram abaixo num piscar de olhos. O arquiteto Benedito Lima de Toledo deixou isto bem claro em suas obras. A imagem captada pelas lentes fotográficas mostrada acima, tirada de um livro publicado em 1953, "Isto é São Paulo", mostra o palacete já quase totalmente demolido e visto da rua Líbero Badaró, tendo ao fundo o Teatro Municipal. Não parece, na época, ter havido grandes lamentações ante o que considero, hoje, um desastre.

De todas as obras da remodelação do Vale do Anhangabaú em 1911, sobraram o Teatro e o Sampaio Moreira, além de parte dos jardins das encostas. Mais tarde, obras como o Hotel Esplanada - hoje ocupado pela sede do Grupo Votorantim -, o prédio da Light, o novo Viaduto do Chá, que derrubou o antigo de metal e o Palácio Trocadero embelezaram mais ainda o Vale. O último já foi para o chão, também. O Vale, hoje, com concreto em sua parte baixa onde um dia correu a céu aberto o rio Anhangabaú e depois um belo jardim com ruas em curvas, é algo que deixa a desejar pelo que já foi um dia.

Três prédios enormes ocupam o local dos três casarões citados. Em meu ponto de vista, jamais deveriam estar ali. O Sampaio Moreira, então, mal aparece, pequeninho, epremido entre eles, embora esteja do outro lado da Líbero. A Praça Ramos, com os prédios construídos à sua volta e também o antigo Zarzur-Kogan, na rua Formosa, de certa forma escondem a beleza do Teatro.

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