sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A FAZENDA GUATAPARÁ


A fazenda Guatapará, da família Prado, depois da família Morganti e nos anos 1970 vendida para os Silva Gordo que venderam sua parte mais alta para a Votorantim, era uma fazenda de café que tinha uma infraestrutura fantástica e uma casa-sede maravilhosa. As construções da fazenda foram praticamente todas demolidas, inclusive a belíssima casa-sede, pelos atuais proprietários e se transformou numa plantação de cana.

A bela casa sobrevive nos belos desenhos de João Paulo Papandreu Lemos, um deles, o da casa-sede, reproduzido acima e os outros numa página de meu site "Lugares Esquecidos", que pode ser vista aqui. Existe mais material sobe esta fazenda desaparecida em outros sites da Internet.

O que está reproduzido abaixo foi transcrito da página sobre a fazenda no "Lugares Esquecidos". Vale lembrar que a existência da fazenda e da ponte da Companhia Paulista sobre o rio Mogi-Guaçu foi o embrião do atual município de Guatapará, separado de Ribeirão Preto.

"(A fazenda Guatapará) ...refletia o pensamento de seu fundador: o conceito moderno de terra - terra cultivada, dos seus 6.268 alqueires, 1.111 eram cultivados, tinha 56 trabalhadores brasileiros para 1.610 imigrantes. Valia 6.616 contos de réis, enquanto a fazenda tinha sido comprada por 70 contos de réis passou a valer noventa vezes o preço de compra.

"As terras da fazenda eram distribuídas. Assim, 2.688 ha eram cultivados em café; 480 ha em cereais e 48 ha em cana de açúcar. Por aí, se percebe o predomínio do café, produto destinado à exportação. Os demais produtos eram usados na pequena fazenda e o restante era vendido.

"Para manter essa imensa cultura, era necessária muita gente e uma forte estrutura. A grande propriedade era dividida em quatro grandes seções: Marco de Pedra, Brejão Grande, Monteiro e Guatapará, possuindo no total 500 edifícios, destinados à casa dos diversos diretores, máquinas de café, oficinas, depósitos, farmácia, hospital, cocheiras e um grande número de casas dos trabalhadores. Cada seção era organizada de tal maneira que havia tudo para o seu custeio e vida própria. Segundo a revista Brasil Magazine: "É somente na parte administrativa que ellas estão todas ligadas a sede central que é Guatapará e que em meio dellas faz o papel da capital de uma pequena e bem ordenada federação".

"Havia 452 casas de colonos, sendo assim distribuídas: Guatapará - 377; Brejão Grande - 34; Marco de Pedra - 23 e Monteiros - 18. Segundo as publicações da época, as casas eram construídas de tijolos e com todos os cuidados higiênicos. (NOTA DO AUTOR: Segundo a família Monteiro da Silva, proprietários da atual fazenda Baixadão, onde está hoje localizado o terreno onde um dia esteve a estação ferroviária de Monteiros, a fazenda Monteiros jamais foi uma seção da Guatapará).

"A seção central, Guatapará, era uma pequena cidade, com uma farmácia com clínico na direção, Joaquim de Miranda Alves, bem equipada com produtos de remédios e produtos antissépticos e até com alguns remédios importados da Itália. Havia um médico, Dr. I. Guzzo, formado na Universidade de Nápoles. Havia também uma escola ítalo-brasileira, um negócio de comércio de produtos alimentares, mercearia e leiteria, um hotel, uma igreja e um cemitério, construído segundo as regras de higiene. "Para o lazer dos trabalhadores, de tempos em tempos, uma companhia dramática e de variedades fazia uma série de espetáculos na fazenda. "Morava e trabalhava na fazenda uma população de 2.074 pessoas das quais 1.662 de nacionalidade italiana, 110 brasileiros e 302 de outras nacionalidades. Moravam lá 343 famílias.

"A parte de serviço do tratamento do café é grandiosa e moderna. A máquina de beneficiar o café é moderna e produz diariamente cerda de 15.000 kg, bem preparados que podem passar diretamente para o mercado de consumo.

"A energia para o movimento dos maquinários vem de um motor de 150 hp a vapor. Esse motor toca quatro dínamos elétricos. Três deles tocam uma série de máquinas para descascar, polir, separar e secar o café. O quarto dínamo se destinava à serraria de madeira, ao torno mecânico e ao moinho.

"Os terreiros para a secagem do café são imensos: 65.00 metros de superfície, todos com piso de tijolos e com uma camada de asfalto, ficando o piso liso e impermeabilizado. Não se perde um grão de café. Há também um terreiro menor nos mesmos moldes na seção do Brejo Grande.

"Há um condutor hidráulico que tem 5 km de comprimento e transporta o café por água até o terreiro. Esse condutor foi construído aproveitando o declive do terreno e economizando muito tempo no transporte do café.

"Na Guatapará, encontram-se algumas fábricas: uma de cerveja, uma de água gasosa, duas de tijolos e de ladrilhos. Elas fornecem seus produtos para as fazendas vizinhas, também para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Há também um curtume de peles.

"O sistema de transporte da fazenda era um dos mais modernos. As linhas da Mogiana passavam dentro da fazenda, onde havia uma estação junto à sede administrativa (seria uma parada junto ao paiol, chamada popularmente de "Chave", pois que a estação de Vila Albertina ficava mais longe da fazenda, ao lado da "Casa da Laranja" - nota do autor), perto da máquina de beneficiar e dos terreiros, e, em 1911, havia um ramal ferroviário particular para o trabalho exclusivo da grande lavoura. O transporte de café para vagões da estrada de ferro era feito por 20 carroções com 150 mulas. (O ramal particular da fazenda Guatapará funcionou até cerca de 1960. - nota deste autor)

"A fazenda Guatapará foi um colosso de modernização, porém no que diz respeito à relação moderna com os trabalhadores ela demorou a adotar."

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