quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

SAUDADES DO QUE NÃO VIVI


Ah, que saudades tenho
De quando não havia luz elétrica à noite
De quando os lampiões iluminavam as ruas
De quando não exitia televisão
De quando não sentávamos no computador
De quando saíamos à noite para o footing
De quando sentávamos na varanda para conversar
De quando famílias conversavam
De quando se conheciam os vizinhos

Hoje fiquei sem luz por seis horas
Como acontece praticamente uma vez por semana
No lugar em que moro chamado Alphaville
Eu que acostumei com a televisão não a tenho
Eu que gosto de ler não posso
Eu que sento ao computador não o tenho
Eu que não conheço meus vizinhos
Eu que saio a pé à noite no escuro
E não encontro viv'alma nas ruas

Ai que saudades tenho
Do tempo em que os fornecedores respeitavam os clientes
Do tempo em que eu não dependia deles
Do tempo em que se sentia fome
Do tempo em que não era preciso
Escrever linhas ridículas como estas de raiva quando volta a luz

Ai que saudades tenho
Do tempo em que minha avó Maria era moça
E que simplesmente se sentava na lua para espairar

2 comentários:

  1. Transcrito de um e-mail do Carlos (e resumido pois não cabia):

    Também sou um saudosista.
    Também tenho saudades dos velhos tempos mas temos que reconhecer que não é a eletricidade o problema da atualidade. Você já imaginou viver sem geladeira? Antigamente comia-se muita comida deteriorada ou visitada por moscas e baratas. Não se podia tomar um sorvete, comer um doce gelado ou beber alguma coisa gelada. O mundo antigo era romântico mas, temos de reconhecer, era cheio de problemas que hoje estão total ou parcialmente resolvidos:

    o uso intensivo de equinos e muares enchia as cidades de moscas, atraídas pelo estrume desses animais:

    não havia rede de esgotos e rede de água (e quando havia, atingia apenas a parte central de algumas cidades mas não era água tratada). As casas tinham poço e fossa negra no quintal, sendo que este contaminava aquela. Muita gente morria de tifo, ou até mesmo de disenteria.

    como não havia antibióticos, as pessoas morriam até de pneumonia. Tuberculose então... Doenças que foram debeladas, como a varíola, ou controladas, como a lepra e a difteria, matavam muita gente. D.Pedro I, apesar de ser Imperador de 2 reinos, perdeu vários filhos ainda crianças. Darwin também perdeu uma filha.

    New York só teve serviço de coleta de lixo à partir do séc. XX. Antes disso, animais mortos na rua, inclusive cavalos, lá permaneciam. O máximo que as pessoas podiam fazer era jogar creolina na carniça.

    Embora alguns lugares do mundo atual ainda sofram com o fanatismo religioso, antigamente a repressão religiosa era muito maior e mais abrangente. Nos Estados Unidos, até o início do século XIX, quem não respeitasse o repouso aos sábados era castigado em praça pública.

    Não havia métodos contraceptivos e as pessoas tinham muito mais filho do que queriam ou podiam ter.

    Mulheres solteiras que perdessem a virgindade não mais casariam

    Mulher que não casasse até os 20 anos ficava para titia (eu imagino que fosse por causa do mau hálito. As pessoas não escovavam os dentes e dentistas só serviam para extrair dentes estragados, sem anestesia).

    Para ficarmos só no Brasil do período republicano, só depois da revolução de 1930 é que acabou o voto de cabresto e também foi permitido o voto feminino. Mas logo depois veio a ditadura Vargas. Democracia mesmo, só de 1945 a 1964 e depois de 1985, que apesar de todos os defeitos é muito melhor que ditadura;

    Para não falarmos do Império, quando ainda havia escravidão. Mesmo depois que ela (a escravidão) acabou, na maioria das casas ,de classe média para cima, havia um negro que tinha as funções de cortar lenha, tirar água do poço, acender o fogo às 4 da manhã para que a cozinheira pudesse por o feijão para cozinhar; por água para esquentar para o banho dos patrões; recolher os urinóis "cheios" , descarregá-los na fossa e depois lava-los. Era função dele também, tirar a água usada da banheira e jogá-la no quintal. Era ele também que levava bilhetes de recados, já que não havia telefone na maioria das casas.


    O automóvel multiplica por 10 a destruição do meio ambiente feita por um ser humano. O pior é que não é nem um pouco eficiente. Olhando fotos das cidades no início do sec.XX, com as ruas ocupadas apenas por bondes e pessoas elegantemente vestidas andando pelas calçadas, penso que se a humanidade tivesse insistido no transporte por trilhos em vez do transporte individual, a vida na cidade estaria muito boa (com computador, geladeira, freezer, forno de micro-ondas, tv, dvd, ar condicionado, avião, pílula anticoncepcional, luz elétrica e outras modernidades).

    Carlos Augusto

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  2. Carlos, respondendo ao seu comentário: sou saudosista, sim, mas na verdade a "poesia" foi feita como uma gozação aos serviços horrorosos da Eletropaulo. Claro que não gostaria de viver sem eletricidade. Mas quem nunca a teve não sentia a sua falta

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