sábado, 6 de fevereiro de 2010

MEMÓRIA DESAPARECE À FORÇA

Palacete Lotaif, demolido em 1982 (Foto Irmo Celso, revista Veja, 30/6/1982) na avenida Paulista, na esquina com a alameda Joaquim Eugenio de Lima

É sabido que diversas construções, principalmente casas, são colocadas abaixo e o terreno vendido ou transformado em estacionamento não somente porque vale muito, mas também porque alguns proprietários não têm dinheiro para arcar com as despesas de manutenção e/ou de impostos altos do imóvel. O tombamento de um bem pelo IPHAN, CONDEPHAAT ou pelo município, isso em São Paulo – sempre lembrando que existem outros órgãos da União – não leva necessariamente à sua preservação.

Vemos em São Paulo diversos casos, como a casa do Itaim-Bibi, cujas ruínas estão tombadas (neste caso as ruínas são praticamente somente as fundações) e uma capela no Barro Branco, tombada, mas posta abaixo mesmo assim há alguns anos. O tombamento de um imóvel deveria no mínimo prover incentivos de impostos e para manutenção do imóvel para que este possa ser conservado de uma forma mínima que seja. Diversos imóveis tombados estão se deteriorando pelo Brasil afora.

Lembro-me das demolições da avenida Paulista, nos anos 1980, que eram feitas durante a noite, para impedir protestos da população. Os donos não queriam continuar arcando com impostos altíssimos e ainda por cima com construtoras acenando com quantias “indecentes” para comprar o terreno e nele levantar mais um edifício com “n” andares. Quem pode condenar um proprietário de deixar de lucrar com um imóvel mesmo que o valor sentimental dele seja grande para os donos?

Uma das soluções seria que a Prefeitura transferisse para os proprietários de imóveis tombados terrenos em outras regiões que tivessem a mesma valia. Não é fácil, mas já houve casos onde o acordo aconteceu. Outra forma seria permitir a demolição de imóveis que não fossem considerados de valor arquitetônico (um caso simplesmente de opinião, pois mesmo arquitetos discordam entre si), mas com a ordem de serem mantidas algumas partes, como a fachada ou outras partes (como foi feita no caso da casa das caldeiras e a chaminé da Matarazzo) ou mesmo o imóvel inteiro, liberando o amplo terreno atrás dele – quando isto for possível, é claro. Não é solução ideal, mas algo se preserva.

Há meses, postei neste blog uma história que poucos sabem, sobre a “chácara da Vila Mariana”, que foi desmanchada em suas construções do grande jardim que tinha uma miniatura de castelo, uma piscina, fontes, pontes e outros artefatos em pedra e cimento. Disse que isso ocorrera nos anos 1970. Não foi. Foi no início dos anos 1990. Também fiquei sabendo que o jardim foi obra de um arquiteto italiano no início do século e que o local originalmente foi chamado de Chácara Flora – nada a ver com o bairro de Santo Amaro. E fiquei sabendo também da triste notícia: como a casa que dava frente para a rua Domingos de Moraes foi vendida sem os jardins, para a construção de um conjunto de prédios no final dos anos 1960, estes ficaram ali, sendo cuidados por pessoas da família que moravam em casas atrás dele. A Prefeita Luiza Erundina, num relance de total desconhecimento das consequências que isso traria (ou de pouco se importar), taxou o imenso terreno como se fosse um terreno baldio, triplicando o valor de seu imposto territorial. Resultado: a família vendeu-o para uma construtora. Esta derrubou tudo e construiu edifícios de apartamentos.

A memória dum lugar único em São Paulo se foi, em nome da impermeabilização do solo, do adensamento populacional, tudo de ruim, enfim. Mais uma das tristes histórias de uma cidade que está se tornando inviável.

2 comentários:

  1. A pref. Erundina deu grandes contribuições ao empobrecimento urbano de SP. Um dêles foi a ameaça de transformar a casa do conde Matarazzo
    na Paulista em museu do Migrante Nordestino
    acelerando assim a demolição por parte dos herdeiros com medo da desapropriação.

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  2. E eu ainda não consegui nenhuma foto da chácara da Vila Mariana. Estou tentando, mas como está difícil.

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