sábado, 21 de março de 2009

OS VAZIOS DE BARUERI

Bom, Barueri não é exatamente o que se pode chamar de uma cidade bonita. É verdade, no entanto, que ela é muito bem cuidada, praticamente o município inteiro tem ruas pavimentadas, tudo que é praça ou pracinha é ajardinado, bem cuidado. O rio São João (ou Barueri, como queiram) foi tapado (ecologicamente incorreto) e sobre ele foi feito um belvedere de cimento (claro) bem arrumado, limpo etc. Não há um só camelô na cidade (não é coincidência), ao contrário, por exemplo, de Carapicuíba, onde você tem de abrir caminho no meio deles entre a estação de trem e os pontos de ônibus, fora o mau cheiro.

Para quem não sabe, o município – foi desmembrado do de Santana de Parnaíba em 1949 – fica a cerca de 25 km de São Paulo, faz parte da área metropolitana da Capital e tem o nono PIB do Brasil. Portanto, rica. Tem cerca de 280 mil habitantes e um time de futebol hoje na Primeira Divisão tanto do Campeonato Paulista quanto do Campeonato Brasileiro. E tem dois Mac Donald´s! Se tem dois Mac Donald´s, deve ser rica mesmo...

Porém, Barueri, cujo núcleo surgiu em 1872 com a chegada das turmas que iam começar a construir a ferrovia e a estação ali, era praticamente apenas o largo da Estação até o início dos anos 1930. Além do rio São João, muito pouca coisa havia, era zona rural, uma casa aqui, outra ali. A chegada do frigorífico em 1937 acabou trazendo uma série de outras pequenas indústrias, que eram ajudadas pela ferrovia, transportando materiais da Capital para lá e (principalmente) vice-versa. As casas da cidade, portanto, começaram a aparecer em maior número nessa época. Já não era tempo das casinhas simples, com pequenos ornatos; era o tempo de casas mais retas, sem graça e do pequeno comércio. As poucas construções mais velhas do largo São João (nome do largo da Estação desde 1929) aos poucos foram sendo derrubadas: até a igreja de 1893 foi para o chão e mudou de lugar. A estação da Sorocabana, típica dos anos 1920, foi demolida em 1982, sendo ali construído um prédio bem maior que hoje é da CPTM; o largo da Estação praticamente foi coberto com toldos para os ônibus municipais. Estamos aqui falando do “centro expandido” de Barueri, ou seja, a região que foi crescendo, mais remotamente, para o leste ao longo do rio e para oeste, bem mais recentemente, em terrenos que até pouco tempo eram do Exército. Sempre é bom lembrar – Barueri tem bairros ricos e pobres, mas eles estão em sua maioria além da Castelo Branco, a montante do rio São João ou mais para o sul, do outro lado da linha.

O grande vazio entre o centro de Barueri e a velha Aldeia de Barueri, esta distante 2 km do centro e fundada no tempo dos jesuítas, começa a ser fechado por avenidas e aos poucos por prédios da Prefeitura, como a Câmara, o ginásio de esportes, mas ainda existe uma área vazia, hoje ajardinada, esperando novas construções particulares e públicas. Mas o que é do centro velho, a cidade que Barueri era até meados dos anos 1970? Esta começa agora a demolir desde as casinhas e lojas mais velhas até velhos galpões (velhos, mas nem tanto, talvez dos anos 1940 ou pouco mais recentes) que ficavam entre o rio São João e a linha da velha Sorocabana. Recentemente pelo menos um foi para o chão, uma área grande, a uns dois a três quarteirões da rua Campos Salles. Também foi demolido um conjunto de pequenas lojas que existia em outra esquina do outro lado do rio, bastante próxima. As duas áreas estão à venda. Como são grandes em relação às lojas e casas à sua volta, pelo menos em parte podemos ter uma vaga idéia do que era Barueri nos anos 1940 e antes: a área vazia que permitia a quem estivesse ao longo do rio ver o outro lado da linha férrea, ou o morro que subia rumo ao Passa-Três, região que hoje é o leito da Castelo Branco e cujo nome parece ter se perdido no tempo.

São sensações de dejavu muito interessantes. Claro que esses terrenos vão acabar sendo vendidos e algo será construído ali. Pode demorar, mas dificilmente isso não acontecerá. Muita gente torce para que isso não ocorra e os locais fiquem mais livres e soltos como estão hoje, embora murados e com restos de entulho dentro deles; os donos das áreas, no entanto, certamente não pensam assim. Aliás, essa é a grande contradição: se fosse eu o seu dono, estaria eu escrevendo estas linhas?

Enfim, se o que for construído ali contribuir para deixar a cidade um pouco mais bonita, o mal causado pela construção será menor. Se for algo feio – claro, tudo questão de opinião – todos se lembrarão do breve tempo em que aquilo estava vazio e podíamos de novo ver ao longe...

Nenhum comentário:

Postar um comentário